1875 – RAZÕES PARA SAIR DA POLÔNIA
1875 – RAZÕES PARA SAIR DA POLÔNIA
Ao deitar meu olhar para o mapa mundial e observar a distancia entre a Polônia e o Brasil me pergunto: O que levou os polacos que se estabeleceram na colônia Santa Cândida a fazerem essa jornada transoceânica com mulher e filhos pequenos? Será que a Pátria Mãe Polônia estava deveras sendo por demais madrasta? O que buscavam em terras tão distantes?
Parte da resposta encontro nos livros de história. Em 1875 ano da partida deles para o Brasil a Polônia já não existe como nação livre e independente. Em 1795 o território polonês foi invadido, ocupado e desmembrado entre Prússia, Rússia e Áustria. A Polônia está riscada do mapa das nações independentes.
O historiador Alberto Victor Stawinski, no livro “Primórdios da Imigração Polonesa no Rio Grande do Sul”, p. 14 assim comenta:
Essas três potencias puseram em ação um lento e progressivo processo de despolonização de seus súditos. Enquanto a Prússia e a Áustria, na ânsia de germanizar a população polonesa, começaram proibindo o uso da língua polonesa nas escolas, igrejas e repartições publicas. A Rússia, tomava medidas mais drásticas, fechando as escolas primárias e vedando aos estudantes poloneses o acesso às escolas de ensino secundário e superior (8). (talvez seja daí a origem da expressão “A coisa ta russa” para situações de extrema dificuldade (*)).
No livro acima citado Alberto Victor Stawinski, destaca:
Criou-se então, para os poloneses um clima de soturna perseguição, de opressão e de ignóbil ostracismo… Grande número de intelectuais e de abastados homiziaram (refugiaram-se (*)) na França e em outros países da Europa. À classe proletária restou apenas uma saída: buscar a liberdade através da emigração.
Romão Wachowicz em seu livro Homens da Terra, p.7.) assim escreve:
Partiam atordoados. Libertavam-se da penúria, da opressão, da perseguição. Aliciados e iludidos, demandavam o além-mar.
Quem poderia resistir à tentação?
Todos tinham casos com o senhorio, com o gendarme, com a caterva de vivaldinos.
Os que possuíam coração, os que amavam a Mãe-Terra enxugavam as lágrimas e partiam em busca de areias cintilantes, para no retorno atirá-las aos olhos do inimigo e cegar os tiranos.
Abandonavam searas de trigo. Tentados, aventuravam melhor sorte. Sonhavam com minas de prata, árvores-leiteiras, frutas-pão, maná em desertos. […] Iludidos, corriam para o desconhecido, em busca de fazendas e castelos ilusórios.
No porto, não passavam de um bando de olhos vendados. Empurravam-nos ao navio. E eles subiam humildes, mas não derrotados.
Alberto V. Stawinski ainda dá inúmeros outros detalhes em seu livro sobre a situação da Polônia no século XIX. No entanto como no BLOG – Santa Cândida a história e as histórias de cada um – tratamos especificamente sobre os polacos prussianos aqui estabelecidos transcrevo na integrava o texto de Stawinski que aborda a dominação prussiana.
OS POLONESES SOB A DOMINAÇÃO PRUSSIANA (1863)
Alberto Victor Stawinski
Após a famosa batalha de Leipzig (1813), em que os prussianos e seus aliados: austríacos, russos e suecos, destroçaram o aguerrido exército de Napoleão Bonaparte, a Prússia tornou-se uma das mais importantes potências da Europa. O rei prussiano, Frederico Guilherme III, no desejo de manter a paz e a ordem dentro dos limites do seu reino, quis governar com brandura o anexado território polonês. Criou-se, pois, o “Grande Ducado de Posnânia”, outogrando-lhes direitos de certa autonomia. Permitiu o uso da língua polonesa e o funcionamento das escolas polonesas. Essa trégua, porém, teve efêmera duração. Em conseqüência dos malogrados levantes de 1830, 1848 e 1863, os poloneses perderam sua relativa autonomia (10).
O domínio do reino prussiano, do lado oriental, abrangia, em 1863, a região polonesa de Posnânia, Pomerânia e parte da Silésia. Tencionavam os prussianos incorporar, definitivamente, ao seu território toda aquela região, que durantes muitos séculos tinha sido parte integrante da Polônia. Para alcançarem tal objetivo, precisavam, antes de tudo, germanizar os seus súditos poloneses. A tarefa da assimilação de aproximadamente 4 milhões de indômitos poloneses exigia um processo metódico e a longo prazo. Em plano prioritário, foi criada a tal “Comissão Colonizadora”, cuja meta principal era obrigar os poloneses, a venderem suas propriedades aos prussianos. A seguir, organizou-se a chamada “luta agrária”, com a finalidade de arrancar das mãos de proprietários poloneses as terras que eles vinham ocupando desde tempos imemoriais. As terras eram confiscadas aos agricultores que se obstinassem a não vendê-las. Com base nessa lei desumana, os agricultores eram esbulhados das suas terras e casas, e substituídos por intrusos lavradores prussianos. Banidos das suas propriedades, os poloneses tinham a proibição de construir novas residências sem a prévia licença das autoridades prussianas (8).
Passou para a história o célebre episódio, ocorrido com o aldeão polonês, Wojciech Drzymała (1857-1937), (em pesquisa encontrei o nome de Michał Drzymała – pode estar havendo erro de impressão no livro de Stawinski ou outra razão desconhecida para a diferença de grafia para o nome do aldeão protagonista do episódio. (*)) a quem as autoridades prussianas haviam negado a licença de construir sua casa. Transformou ele uma carroça em casa e passou a morar na rua. Essa carroça moradia tornou-se símbolo da luta dos poloneses contra a política de germanização. A atitude destemida de Drzymała suscitou imitadores. Toda a imprensa européia comentou amplamente esse episódio, tecendo rasgados elogios à resistência heróica dos poloneses contra a injusta pressão prussiana (8).
O processo de germanização dos poloneses por parte dos prussianos recrudesceu com o lançamento do malfadado “Kulturkampf” do autoritário chancelar Otto Von Bismarck. Na década de 1870 foi, severamente, proibido o uso da língua polonesa nas escolas, nas igrejas, nas repartições públicas e em todos os atos oficiais. Ademais, aos poloneses foi interditado o acesso a qualquer cargo público. Os prussianos empenharam-se, ainda, em germanizar os nomes poloneses de cidades, vilas, aldeias, praças, ruas, lagos, montanhas,… (19)
Convencidos de que a Igreja Católica constituía forte baluarte de polonidade, os prussianos desencadearam uma luta aberta contra o clero e as instituições católicas. A situação dos poloneses torna-se deveras desesperadora. De fato, como poderia sobreviver um povo esbulhado de seus haveres, privados de todos os direitos sociais e políticos e impedidos de se expressar em sua língua materna? Sem mais nem menos, sob o domínio prussiano os poloneses viram-se reduzidos à condição de párias (19).
No último quartel do século XIX, alarmante crise econômica generalizaram-se em todos os países europeus. O nível salarial era baixo e, por outro lado, ia crescendo cada vez mais o número de desocupados.
Milhares de lavradores tiveram que procurar trabalho fora do território prussiano. Isso, porém, só resolvia em parte o problema da superpopulação e da escassez de ocupação para todos. A fim de sustar o avanço da crise econômica os prussianos chegaram à conclusão de que deveriam liberar a emigração dos poloneses. Criou-se, então, um órgão de controle e orientação dos candidatos à emigração. Todo emigrante devia munir-se de passaporte oficial, redigido em língua alemã. Exigia-se, ainda, dos poloneses católicos que levassem consigo certificado de batismo e casamento religioso. É interessante notar que os párocos forneciam esses documentos exarados de caso pensado, em latim e não em alemão. Era uma espécie de protesto indireto conta a dominação prussiana (20).
De 1875 a 1900, mais de 20 mil emigrantes poloneses deixaram o território prussiano com destino aos países norte e sul americanos. Esse número, porém, foi aumentando até o começo da primeira guerra mundial. Nos países de destino, os poloneses eram registrados não como imigrantes poloneses, mas como prussianos. Aparece isso comprovado, por exemplo, pelo Mapa Estatístico da Imigração, que é conservado no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul em Porto Alegre (21). Entretanto, os imigrantes poloneses vindos embora da Prússia, jamais consentiram em ser considerados como prussianos.
No Paraná os polacos destinados a colônia Santa Cândida foram registrados pelas autoridades brasileiras como polacos prussianos (*).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS de Alberto Victor Stawinski
8 – CYRYLA, S. M. POLSKA (Podrecznik do Nauki Dziejów Ojczystych, Czesc II. Chicago, Illinois, 3800 Peterson Ave. 1933. – 288 pp. (POLÔNIA. – Manual da História da Pátria II Parte) p. 20, 38, 48, 51, 52,…
10 – HALECKI, O. HISTÓRIA DE POLÔNIA. Buenos Aires 1946. Editora Bezeta. 255 pp. (Vrsión Directa del Inglês por J. L. Izquierdo Hernandez) p. 158 ss.
19 – ANAIS DA COMUNIDADE BRASILEIRO-POLONESA. Superintendência das Comemorações do Centenário da Imigração Polonesa ao Paraná. Curitiba, PR., Rua Carlos de Carvalho, 575, 1970 a 1974. (7 Volumes)
1970, Vol. I e Vol. II.
1971, Vol. III, Vol. IV e Vol. V.
1972, Vol. VI.
1973, Vol. VII.
p. 16-27, 29-35 (Vol. I; p. 97-106 (Vol. II); p. 17-34, 82-103 (Vol. III); p. 23-24 (Vol. VII).
20 – WASTOWSKI, Mons. Pedro Protásio. INFORMAÇÕES SOBRE IMIGRANTES POLONESES ORIUNDOS DA REGIÃO SOB DOMÍNIO PRUSSIANO. Cf. Carta 15.09.1974. Arq. Inst. Hist. Capuchinhos. Cx P. 233. – 95.100 – Caxias do Sul, RS.
21 – ARQUIVO HISTÓRICO DO RIO GRANDE DO SUL. Porto Alegre, Rua André Puente, 318. – COLÔNIA CONDE D’EU, Linha Azevedo Castro I secção, Livro 511, 1877. – MAPA ESTATÍSTICO DA POPULAÇÃO COM A INDICAÇÃO DOS LOTES OCUPADOS E DEMONSTRAÇÃO DO DÉBITO DOS COLONOS À FAZENDA NACIONAL (01.01.1884, Colônia Conde D’Eu, Linha Azevedo Castro, I Secção, Fls. 50 – 105).
FONTES:
Stawinski, Alberto Victor. Primórdios da Imigração Polonesa no Rio Grande do Sul (1875-1975). Porto Alegre, Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes; Caxias do Sul, Universidade de Caxias do Sul, 1976.
Wachowicz, Romão 1907
Homens da Terra/Romão Wachowicz, tradução de Francisco Dranka. Terceira edição, Curitiba, Vicentina, 1997, 337 p.
-Título Original em língua polonesa editado em Curitiba em 1962.
SZERSZENIE WRAJU
– Título da edição polonesa editado em Varsóvia em 1980.
POLSKIE KORZENIE
Goulart, Maria do Carmo Ramos Krieger. “Imigração Polonesa nas Colônias Itajahy e Principe Dom Pedro”: Uma contribuição ao estudo da imigração polonesa no Brasil Meridional. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1984.
IMAGENS:
Fonte: http://www.wykop.pl/link/1489701/woz-drzymaly/
Fonte: http://blogmedia24.pl/node/57580
Fonte: https://pl.wikipedia.org/wiki/Micha%C5%82_Drzyma%C5%82ª
(*) Nota de Danusia Walesko