Tiroteio na casa paroquial com Padre Leon Niebieszczański. 1915.
Tiroteio na casa paroquial com Padre Leon Niebieszczański. 1915.
Padre Leon Niebieszczański – “bom e agradável como mel, mas Deus o livre, quando ficava irritado, parecia um leão”!
O Pe. Leon Niebieszczański chegou ao Brasil em 1896. Foi o primeiro padre a fixar residência na Colônia Santa Cândida. Lá contribuiu para a construção da casa paroquial, a ampliação da capela e a vinda das Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria para assumirem a educação na escola da colônia.
Antes de se estabelecer na Santa Cândida, trabalhou na paróquia do Abranches, onde, em 1906, entrou em atrito com alguns políticos e paroquianos. Em uma noite, sob o pretexto de levar o padre para um doente, levaram-no para um matagal, onde lhe deram uma grande surra, deixando-o todo ensanguentado. Como consequência, ficou surdo de um dos ouvidos, por causa disso foi transferido para Santa Cândida.
O Pe. Leon era zeloso, dedicado, hospitaleiro e de opinião. Nos sermões do domingo, não perdoava os pecadores públicos que viviam impenitentes, e do alto do púlpito, citava os seus nomes.
Em 1915, na Festa de Nossa Senhora da Luz, levado pelo entusiasmado oratório, censurou nominalmente alguns casais polacos que viviam sem o casamento religioso. Seu sermão provocou um grupo de pessoas.
Em outra noite, usando o mesmo pretexto, bateram à porta da casa paroquial. A cozinheira Agnieska foi até a porta para atender, mas antes de abri-la, perguntou de que se tratava. Ao ouvir a resposta e o nome da pessoa doente, estranhou e disse:
– Isso é mentira, pois estive com ela nessa manhã e ela estava bem!
– Oh, sim! Mas ficou ruim de repente.
Ouviam-se uns cochichos, sinal de que havia mais gente. A coisa poderia ter terminado nisso, mas o Pe. Niebieszczański, escutando a conversa, levantou-se e, sem abrir a porta, perguntou do que se tratava. “Doente, doente!” O padre disse que sem uma ou duas pessoas da Comissão Paroquial não iria abrir. Irritados, eles gritavam: “Vai atender a doente ou não?” E começaram a atirar. Duas balas atingiram as costas e o braço do padre. A cozinheira arrastou-o a outro quarto para se protegerem, pegou o revólver do padre, subiu no sótão, abriu a telha e começou a atirar e a gritar, pedindo socorro. Na escola das Irmãs, as velas se acenderam, os vizinhos gritaram: “Estamos chegando.” Os assaltantes começaram a se retirar. A corajosa cozinheira queria ir à escola das Irmãs para procurar curativo para o padre, também estava ferida com uma ou duas balas, mas sem gravidade. Socorreram o padre como puderam, principalmente a Irmã Gabriela, que atendia os doentes. Chamaram o médico ainda naquela noite, mas ele chegou apenas de madrugada. Fez os primeiros curativos e nos outros dias foi dando assistência mais completa até curar definitivamente o padre. A cozinheira também foi assistida pelo médico.
Pensando que iria morrer, o Pe. Leon pediu por outro padre e disse que perdoava aos criminosos. O Pe. Dejewski veio de madrugada atendê-lo e dar a Unção dos Enfermos.
Ao raiar do dia, foram encontrados um revólver no chão e um chapéu, o que ajudou a polícia a descobrir um dos participantes, pois o cachorro policial levou o chapéu à casa do dono.
Infelizmente, o processo terminou em nada, devido ao influente líder polonês, muito anticlerical, Kazimierz Warchalowski, proprietário e redator do Jornal “Polak w Brazylii”. No nº 73 desse jornal, consta a narração do assalto.
Depois de recuperar a saúde, o Pe. Leon desistiu de trabalhar na Santa Cândida e foi trabalhar junto à Igreja de Santo Estanislau. No dia primeiro de março de 1918, faleceu na casa paroquial da Igreja de São Estanislau, em Curitiba, e foi sepultado no Cemitério Municipal de Curitiba. O Pe. Wojciech Sojka, ao lembrar esse sacerdote, escreveu: “O Pe. Niebieszczański foi um dos melhores sacerdotes poloneses no Paraná, um homem de fama irrepreensível. Mas era prejudicado pelo temperamento.”
Revisão Ortográfica: Alvaro Posselt
FONTE:
Arquivo da Paróquia Santa Cândida – Arquivo dos Padres Vicentinos
A Arquidiocese de Curitiba na sua História, redação Pe. Pedro Fedalto, Curitiba 1958, p. 117 a 120.
Malczewski, Zdzislaw. Solicitude não apenas com os patrícios: missionários poloneses no Brasil /Zdzislaw Malczewski; tradução Mariano Kawka. Curitiba: Vicentina, 2001, p.157 e 158.
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